O debate sobre IA e o futuro dos empregos é constante e, por diversos momentos, me pergunto o quanto a humanidade será impactada. Vivemos numa era em que, mesmo cientes de que nosso smartphone nos ouve, não nos importamos. Pelo contrário: achamos o máximo quando a IA nos responde prontamente qual música está tocando no ambiente.
Em todo questionamento que faço, procuro analisar as possíveis consequências de uma determinada ação ao longo dos anos. Para explorar a fundo a questão da IA e o futuro dos empregos, proponho uma dinâmica: como seria planejar uma viagem ou enfrentar o trânsito sem o Waze?
Guia Quatro Rodas o antigo Waze: A Revolução Silenciosa

Antigamente, planejar uma viagem em família significava usar o Guia Quatro Rodas, com post-its e marca-textos indicando a rota. Se você se perdesse ou precisasse de um caminho alternativo, a busca por uma nova rota em letras miúdas era, no mínimo, uma aventura que testava a paciência.
Inclusive ao escrever essa postagem, me deparei com a seguinte matéria do UOL, que vale a pena sua leitura para destravar alguns momentos nostálgicos da sua vida.
Hoje, temos o Waze: uma ferramenta simples, democrática e, na maioria das vezes, pré-instalada em qualquer smartphone. A praticidade é tanta que, se o motorista erra o caminho, o aplicativo recalcula o percurso em segundos, trazendo segurança e tranquilidade. Visitar amigos em bairros distantes tornou-se trivial: basta digitar o endereço e seguir a voz que nos guia.
É exatamente aqui que começo a refletir sobre o papel real da IA e o futuro dos empregos.
A IA Como Aliada, Não Como Substituta
O fato de qualquer motorista ter acesso a uma IA de baixo custo para guiá-lo no trânsito não fez com que os empregos de motoristas particulares, taxistas ou de aplicativo despencassem. Pelo contrário, a tecnologia “empoderou” esses profissionais.
Você pode argumentar que carros 100% autônomos já existem, alimentados exatamente pela imensa quantidade de dados que o Waze coletou. E que, sim, eles eliminarão empregos no futuro.
No entanto, não basta uma IA para extinguir uma profissão. Podemos ter o carro autônomo mais avançado do mundo, mas será que um governo local permitiria que ele navegasse pelo trânsito caótico de São Paulo ou por uma rodovia federal mal sinalizada? A tecnologia, nesse contexto, parece ser muito mais uma copiloto do que uma usurpadora de empregos.

Essa mesma lógica se aplica a outras áreas. Em nossa startup, por exemplo, desenvolvemos uma IA, a Xuxu, que atua como assistente financeira em postos de gasolina. A função dela não é substituir o frentista, mas sim livrá-lo de tarefas repetitivas e passíveis de fraude, como lançamentos manuais no caixa.
Imagine um frentista livre dessa burocracia. Ele pode focar no atendimento, ofertar outros produtos e transformar a experiência de quem para no posto — um local que, convenhamos, as pessoas frequentam por necessidade, não por prazer, já que na maioria das vezes é porque a gasolina acabou e consequentemente terão que despender tempo e dinheiro naquele local.. Não seria uma situação melhor para todos os envolvidos?
Funcionários Não Serão Apenas Funcionários
Até aqui, apresentei a IA como uma assistente. Contudo, há outro fenômeno em jogo: a descentralização de processos, que elimina intermediários e empodera os verdadeiros talentos.
Nesse novo cenário, aqueles funcionários que chamo de “aposentados de empresa privada” — os que apenas executam o que lhes é mandado, sem se importar com o negócio — terão seus empregos em risco. O motivo é simples: todo empresário precisa de lucro para sobreviver. Se um funcionário custa R$ 5 mil, mas seu trabalho não gera um retorno equivalente ou maior, essa equação se torna insustentável. A IA apenas torna essa falta de performance mais evidente.
Um exemplo prático são as “Big Four” da auditoria. Elas precisam inovar com urgência, pois em breve empresas menores, equipadas com as ferramentas certas, terão a mesma capacidade de prestar o serviço por um preço muito mais baixo. A culpa será da tecnologia ou da empresa que se acomodou em sua liderança?
Ao longo da minha carreira, conheci programadores que mal dominavam a lógica de programação. Hoje, eles têm dificuldade de encontrar emprego, pois uma IA executa suas antigas tarefas com mais eficiência. No fundo, eles não foram substituídos pela IA, mas pela própria falta de empenho em se aprimorar. A tecnologia apenas deu ao empregador o poder de enxergar isso claramente.
Conclusão: IA Uma Ferramenta, Não uma Sentença
Ao escrever este artigo, percebo que a discussão sobre a IA e o futuro dos empregos é mais complexa do que parece. Sim, a inteligência artifical irá eliminar alguns empregos, principalmente aqueles ligados a tarefas repetitivas e enfadonhas. No entanto, seu maior impacto será ajudar a humanidade a evoluir, permitindo que profissionais de todas as áreas foquem em estratégia, criatividade e crescimento.
É inevitável: médicos, advogados, varejistas e prestadores de serviço precisarão entender que a IA veio para ficar. O desafio não é lutar contra ela, mas aprender a usá-la para entregar um serviço cada vez melhor.